quinta-feira, 13 de março de 2025

A Fábrica de Mosquitos que Salva Vidas


Em um prédio de dois andares em Medellín, Colômbia, cientistas dedicam horas de trabalho à criação de milhões de mosquitos em laboratórios. O processo inclui cuidados minuciosos, desde a fase de larva até a fase adulta, garantindo a temperatura ideal e uma dieta rica, composta por farinha de peixe, açúcar e até sangue.

Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, esses mosquitos não representam uma ameaça para a população. Pelo contrário, são essenciais para salvar vidas. Eles são liberados para cruzar com mosquitos selvagens que carregam vírus perigosos, como o da dengue, do Zika, do chikungunya e da febre amarela.

O diferencial desses mosquitos criados em laboratório é a presença da bactéria Wolbachia, que impede a transmissão dessas doenças aos seres humanos. À medida que esses mosquitos se reproduzem com os selvagens, a bactéria se espalha, reduzindo a circulação dos vírus e protegendo milhões de pessoas.

Os resultados desse método já são evidentes. Em Yogyakarta, na Indonésia, um estudo mostrou que a presença da Wolbachia reduziu os casos de dengue em 77% e as hospitalizações em 86%. Já em Medellín, desde o início das liberações em 2015, houve uma queda de 89% nos casos de dengue.

O sucesso da iniciativa levou à sua expansão para 11 países, incluindo Brasil, Colômbia, México, Indonésia, Sri Lanka, Vietnã, Austrália, Fiji, Kiribati, Nova Caledônia e Vanuatu. Para atender à crescente demanda, o World Mosquito Program precisa produzir centenas de milhões desses mosquitos, e a fábrica de Medellín, a maior do mundo nesse setor, já produz mais de 30 milhões por semana.

Historicamente, o combate aos mosquitos sempre se concentrou na sua eliminação, por meio de inseticidas, mosquiteiros e armadilhas. Agora, no entanto, a abordagem mudou: em vez de exterminá-los, o objetivo é criar mosquitos modificados que ajudem a conter doenças.

O processo de produção na fábrica envolve a manutenção de uma colônia primária de mosquitos Wolbachia, cujos descendentes geram milhões de ovos. Estes, quando imersos em água, eclodem e se desenvolvem até a fase adulta, sendo alimentados com farinha de peixe, açúcar e sangue — obtido por meio de estoques vencidos de bancos de sangue.

Para distribuir os mosquitos pela cidade, a fábrica utiliza motocicletas e até drones, garantindo uma ampla cobertura.

O projeto, que já foi considerado estranho por muitos, hoje recebe apoio crescente de comunidades ao redor do mundo. A ideia de utilizar mosquitos como aliados no combate a doenças, antes vista com ceticismo, agora se consolida como uma solução inovadora e eficaz.



Além disso, a bactéria Wolbachia tem outra aplicação promissora: está associada à prevenção da doença do verme do coração em cães. Grandes empresas do setor farmacêutico e veterinário já enxergam oportunidades nesse mercado, o que pode levar a novas soluções para a saúde animal.

Assim, os "mosquitos do bem" continuam a se multiplicar, não como uma ameaça, mas como aliados na luta contra epidemias que afetam milhões de pessoas ao redor do mundo.


Artigo de Paula Schmitt

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